terça-feira, 26 de abril de 2011

Mensagem de Mahatma Gandhi

A vida é somente vida quando existe amor.
A não violência é a arma dos fortes.
A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.
A verdade nunca fere uma causa justa.
A Terra provê o suficiente para a necessidade de todos os homens, mas não para a voracidade de todos.
Nada tenho de novo para ensinar ao mundo, a verdade e a não violência são tão antigas quanto as montanhas. Tudo o que tenho feito é tentar praticá-las na escala mais vasta que me é possível. Assim fazendo, errei algumas vezes, e aprendi com meus erros.
Não existe um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho.
Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano, só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.
O medo tem alguma utilidade, a covardia não. Os covardes são incapazes de dar amor, ou de reconhecer o valor. Isto é para os corajosos. Os fracos não podem perdoar, o perdão é atributo dos fortes.
Se queremos progredir não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.
Tolerância mútua é uma necessidade em todos os tempos e para todas as raças, mas tolerar não significa aceitar o que se tolera.
O nosso muito falar nos afasta de Deus; O nosso sábio calar atrai Deus a nós. Só quem se integra em Deus sabe o que é Deus.
O que quer que você faça, será insignificante, mas é muito importante que você o faça.
Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem exceções, com o maior bem e a paz de toda a humanidade.
Se um único homem atingir a plenitude do amor neutralizará o ódio de milhões.
SEJA A MUDANÇA QUE VOCÊ QUER VER NO MUNDO!


Fonte: Recanto das Letras

domingo, 17 de abril de 2011

CAPÍTULO 10 – A Recém-Chegada

A tarefa de esclarecer Naiara não foi muito fácil. Ela nunca acreditou na existência de uma vida após a morte. Pensava que a haviam colocado em uma casa de repouso e que as pessoas que cuidavam dela eram funcionários do lugar. A cada vez, ficava mais confusa.
      ─ Tudo bem que eu estava um pouco estressada com o trabalho, mas também não precisava me internar. Quem teve essa ideia de me colocar aqui? Será que foi o desocupado do meu filho? E como vai ficar a novela? Quem irá me substituir? Preciso muito de um telefone, será que não há orelhões nesse lugar?
Quando Amélia chegou ao quarto para ver Naiara, encontrou-a arrumada para sair.
        ─ Que é isso? Você não está liberada ainda.
        ─ Não posso ficar aqui, tenho uma novela para terminar.
        ─ Sua novela terá um substituta.
        ─ Como assim? A emissora me dispensou?
        ─ Daqui a pouco Irmã Átila virá para conversar com você.
        ─ Irmã? Isso aqui é um convento?
        ─ No início, também pensei que fosse. Esse lugar é um tanto quanto esquisito, mas depois você se acostuma e acabará gostando. Terá muito tempo para isso, já que nós somos seres imortais.
        ─ Era só o que me faltava! Deve ser uma dessas novas seitas malucas...
Você nunca pensou que existe uma vida espiritual?
Aonde você quer chegar?
Bom, logo você irá perceber. Afinal, a vida continua.
Não estou gostando dessa conversa, não entendo nada do que vocês falam, parecem um bando de malucos.
Em meio à conversa das duas, Irmã Átila chegou ao quarto para visitar Naiara:
Graças a Deus que a senhora chegou, Irmã ─ Disse Amélia─ Não encontro palavras para explicar a situação de Naiara.
Olá, Naiara. Sou eu, Átila. Como você está? Melhorou?
Não, só estou mais confusa. Escute, eu não sei que tipo de lugar é esse, mas não estou interessada em ficar. Por favor, deixe-me ir embora para minha casa.
Quem sabe um dia. Mas agora, você precisa me escutar. Você perdeu o seu corpo físico em um acidente. É por isso que não pode voltar a viver na Terra. Porém viverá aqui, no mundo espiritual.
O quê? Impossível, não lembro de nada disso... Apenas sei que fui tentar impedir que meu filho saísse de carro, pois estava embriagado. Entrei no carro, mas antes de sair, ele bateu no muro da casa. Fiquei um pouco atordoada e... Acho que desmaiei. Quando dei por mim, estava num hospital.
O seu filho já se encontra bem na Terra. Talvez não tenha percebido, mas já se passaram seis meses desde o ocorrido.
Seis meses? Isso é alguma piada?
       Enquanto Irmã Átila explicava a Naiara a sua situação, Dona Graça ─ uma das pacientes que se encontravam no Centro de Recuperação há algum tempo ─ saiu de seus aposentos sem permissão e entrou no quarto de Naiara por acaso. Ao reconhecer a atriz de TV, gritou com sua voz estridente:
          ─ Naiara! É você mesmo aqui? Já sabe que está morta?
          ─ Meu Deus, quem deixou Dona Graça sair?
 Dona Graça é uma senhora de meia idade, que se encontrava em Novo Horizonte há seis anos. Era conhecida por todos como uma pessoa desmiolada, que falava tudo sem pensar ou medir palavras. Estava em tratamento, mas não havia melhorado ainda. Vez ou outra fugia e ia conversar com os recém-chegados, o que dificultava o trabalho dos esclarecedores, porém tudo de uma forma divertida.
  ─ Quem é essa maluca? ─ Perguntou Naiara
  ─ Sou maluca, mas sou feliz. Mais maluca é quem me diz.
  ─ Dona Graça, volte para seu setor, vai acabar deixando seus enfermeiros preocupados. Já está na hora de tomar o seu remédio.

 
CAPÍTULO 11 – Tentando Telefonar

Após algum tempo, Naiara passou a entender melhor o que havia acontecido com ela, mas, ainda assim, queria muito falar com seus filhos.
Certa vez, enquanto andava pelo hospital, encontrou um telefone na recepção. Tentou então, discá-lo e ligar para casa. O telefone chamou, e quando o atenderam, ela teve uma surpresa: ouviu a voz de seu filho, mas ele não escutou a dela.
Quê? O que é isso? ─ Irmã Átila, que passava pelo corredor no momento, foi ver qual era o problema.
Irmã Naiara, ainda não está de alta, por favor, não saia de seus aposentos sozinha. Se quiser passear, pode chamar Irmã Amélia. Tenho certeza de que ela estará muito disposta a ir com você.
Sim, mas... Eu liguei para o meu filho e ele não conseguiu me responder.
O quê? Como foi isso? ─ Quis saber Amélia, que havia acabado de se juntar às duas.
Este aparelho não é bem um telefone como o da Terra. Ele serve pra se comunicar apenas nessa dimensão. Raramente, o sinal alcança algum plano físico. Mesmo assim, provavelmente quem estiver lá não irá conseguir nos ouvir. Irmão Gabriel tem um mais sofisticado, cujo alcance é maior, mas só se utiliza em casos específicos.
Essa eu não sabia. Só porque ele é o maioral pode ter aparelhos melhores que os outros? ─ Perguntou Amélia
Não, Irmã. Ele foi preparado para isso. Fez um treinamento intensivo.
Sei, treinamento para usar um celular...
As coisas não são tão simples. Há muito que aprender ainda.
Então, como eu faço para falar com eles? Posso pedir o tal aparelho emprestado?
Iii, filha, desista. Aqui há muita burocracia. Eu mesma, só consegui conversar com alguém de casa após insistir muito e esperei quatro anos! Isso aqui é mais lento que repartição pública.
Bem, Naiara, dependendo de seu desempenho, pode-se levar algum tempo. Geralmente entre três e cinco anos.
Nossa, tudo isso!
Viu o que eu disse? Mas, relaxe o tempo passa mais rápido do que você imagina.
Então, Naiara entendeu que manter a calma seria a melhor solução para resolver seu problema. Com o tempo, ela iria acabar conseguindo realizar o que tanto desejava.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Assim no Céu, como na Terra - Capítulos 8 e 9

                                   CAPÍTULO 8 – Na Casa Nova


           Amélia estava bastante recuperada e já não precisava mais permanecer no hospital. Agora ela podia finalmente se mudar para um novo lar e ficou muito contente ao pensar em como seria morar na nova casa.
─ Posso levar alguma coisa daqui?
─ Não precisa, tudo o que você quiser vai encontrar lá.
─ Lá também é abafado?
─ Não, o clima lá é ótimo. Muito aconchegante.
─ O carro já chegou?
─ Carro? Nós vamos a pé.
─ A pé? Mas que pobreza! Não deu nem pra chamar um táxi?
─ Não vamos precisar disso, afinal é bem perto não é mesmo?
─ Está bem então. Vamos logo.
Mas, ao chegar, Amélia e Irmã Átila tiveram uma surpresa:
─ Nossa, até que enfim encontramos esse lugar. Pensei que não ia chegar nunca! Nunca andei tanto na minha vida!
─ Andar faz bem a saúde. E além de tudo, podemos aproveitar melhor a vista.
─ Sei, sei. Mas cadê a pessoa que iria nos receber? Não estou vendo ninguém aqui...
─ A casa está fechada. Acho que ela ainda não chegou.
─ Mas que brincadeira é essa? Depois dessa caminhada toda e nem mesmo tem viva alma nesse lugar!
─ Calma, Irmã. Vamos aguardar um pouco, logo virá alguém.

Após algum tempo, apareceu um senhor com cabelos grisalhos, já rareando. Tinha olhos bem vivos e o semblante sereno. Estava usando um avental e carregava uma enxada na mão.
─ Irmã Atila! O que faz por aqui?
─ Bom dia, Seu Inácio. Cuidando dos jardins como sempre?
─ Sim, isso para mim é uma ótima terapia.
─ Vim trazer essa irmã, que irá passar algum tempo na casa de Dona Zefinha.
─ Sim, a chave da casa está comigo. Ela me mandou entregá-la a sua nova hóspede, pois precisou atender a um caso de emergência.
─ Ela é mesmo uma pessoa muito prestativa.
─ Fique à vontade, Irmã. Se precisar de mim, eu moro naquela casinha ali em cima, mas estou sempre cuidando dos jardins.
─Você não me é estranho. Se não me engano, meu pai teve um empregado com o seu nome.
─ É mesmo? Sim, agora me lembro! Você é a Amelinha!
─ Sou eu mesma! Bem, um pouco mudada, mas ainda sou eu. Por onde anda meu pai? Tem visto?
─ Não, senhora. Ele não mora nessa colônia. ─Ao notar que Amélia já estava se entrosando, Irmã Átila se despediu:
─ Tenho que ir agora, Irmã. Deixarei você com seu novo amigo.
─ Quando a verei novamente?
─ Quando quiser, basta me ligar. Mas de qualquer forma, sempre vamos nos ver no hospital, quando você for cuidar de Angelina, não é mesmo?

Ainda durante à tarde, Dona Zefinha chegou e encontrou Amélia no sofá, cochilando:

─ Boa tarde! Sinto muito por não ter podido recebê-la.
─ Bem, você demorou tanto que acabei dormindo.
─ Em dois dias da semana eu vou ao pavilhão infantil para dar aula às crianças. Mas, hoje eu precisei resolver um caso de emergência.
─ Caso de emergência? No pavilhão infantil? Nem sabia que existiam crianças por aqui.
─ Na verdade, aqui é muito semelhante à Terra. Havia um caso complicado com uma criança.
─ Encontrei um conhecido por aqui.
─ Mesmo? Quem?
─ Seu Inácio, há um tempo atrás ele trabalhou para meu pai na fazenda.
─ Ah sim, ele é uma ótima pessoa. Sinta-se em casa, daqui a pouco vou preparar uma sopinha. Você ainda vai precisar se alimentar por algum tempo.
─ Ótimo, estou morrendo de fome.
─ Mas logo você vai conhecer novas fontes de energia. E não precisará mais de alimento sólido ou líquido.
─ Mas que coisa, se fosse assim também na Terra, eu não precisaria lavar pratos.
─ Na Terra também há outras fontes, mas as pessoas não estão adaptadas a isso ainda.
     
       Após a sopa, Amélia e Zefinha foram conversar enquanto esperavam o sono.
Zefinha contava que tinha uma filha na Terra e que estava muito preocupada, pois ela só pensava em se divertir, sem medir as consequências. Rezava muito pela filha, mas não estava vendo uma maneira de ajudá-la.

─ Você já foi fazer uma visita a sua filha na Terra?
─ Não, ainda não tive oportunidade.
─ Como assim?
─ Sempre tenho chamados de emergência daqui, não posso me afastar por muito tempo. Mas pedi ao pai dela, que mora em uma colônia mais adiantada, para ir orientá-la.
─ Eu não teria paciência. Se fosse você, iria logo.
─ Às vezes precisamos nos preparar primeiro, pois tenho muitos amigos que foram e tiveram um choque ao chegar lá. O ambiente estava totalmente mudado.
─ Quando eu cheguei aqui, só pensava em ir ver a minha família. Insisti tanto, que os venci pelo cansaço. Fui até a uma sala restrita, em que só era permitida a entrada de pessoas especializadas, cheguei inclusive a desmaiar.
─ Mas isso foi muito perigoso, Amélia! Tive uma hóspede há alguns anos atrás que trabalhou nessa repartição, chamava-se Clarice, uma pessoa muito dedicada. Ela dizia que o trabalho lá era muito importante e difícil. É necessário um grande preparo para exercer essa função.
─ Engraçado, Clarice era o nome da minha mãe.
─ Será que era ela?
─ Quem sabe...
Nesse momento, Amélia sentiu muita emoção, ao perceber que a sua mãe também poderia ter estado lá, e que Zefinha era sua amiga.
─ Não fique assim, Amélia, Irmã Clarice está em um lugar ótimo. Ela me mandou vários cartões postais da colônia. É um lugar muito bonito, mas nós não podemos visitar, pois apenas espíritos mais adiantados conseguem chegar. De vez em quando, ela me liga também. Prometeu me fazer uma visita em breve.
─ Isso seria maravilhoso.


CAPÍTULO 9 - Reencontro

        Irmã Amélia acordou mais cedo no dia seguinte, pois precisava ir ao centro de recuperação para ver Angelina.
         ─ Como será que está aquela desmiolada? ─ Se perguntou Amélia.
        Quando chegou lá, encontrou a moça sentada na sala de visitas. Ela estava com uma ótima aparência, nem parecia a mesma:
Amélia? Que bom vê-la!
Nossa, você está ótima! Esqueceu aquela besteira?
Não diga isso. É um amor verdadeiro
Amor, amor, amor... Temos que ver a realidade. ─ Em meio à conversa, Irmã Átila interrompeu, dando notícias sobre a rebelião:
Que ótimo encontrá-las assim tão bem e dispostas. Fiquei sabendo que a rebelião foi contida. Após muito trabalho dos amigos espirituais, conseguimos em parte controlar o conflito. Mas ainda restaram rebeldes, que fizeram algumas desordens e causaram certos acidentes, prejudicando muita gente na Terra. Mas, ao menos conseguimos impedir que coisas piores acontecessem.
Então a rebelião acabou?
Na verdade não, pois já que eles não conseguiram criar uma confusão por meio de desavenças, estão agora querendo causar um desastre natural.
E isso é possível? Quando estava na Terra sempre achei que fossem fenômenos normais, causados pelo clima ou coisas do tipo.
Alguns são, mas outros têm uma origem distinta. Existem moradores de algumas colônias que tem prazer em causar pânico na Terra, assim como em outros planetas. Estão sempre nos dando muito trabalho.
Nossa, deve ser difícil vigiar essa turma.
É algo muito sério, mas no momento eles estão só articulando. Enquanto isso, nós temos que pensar logo no que fazer. Mas ainda não é algo em que vocês possam ajudar.
Que pena, ia dar uma boa lição nesses marginais!

Após a saída de Irmã Átila, Amélia e Angelina foram passear nos jardins do centro de recuperação:
Qualquer dia venho te buscar para fazer um piquenique.
Séria ótimo, mas creio que não posso sair daqui do hospital ainda.
Não tem problema, é só lavar essa sua cara, arrumar o cabelo... Vou dar um jeito em você. Sem falar que aqui daria um ótimo lugar para um piquenique. E aqui perto há varias fontes, esse troço é muito grande, me lembro de quando cheguei, sempre queriam mostrar muitas coisas, mas eu pensava que era só conversa.
Tem razão, esse lugar é muito bonito, nem parece um hospital.
Agora, quando você finalmente puder sair, vai poder ir a vários lugares realmente interessantes para sua idade, em vez de ficar plantada aqui. Vou levá-la ao cinema e depois ao bosque dos namorados, para você arrumar um paquera.
Não sabia que tinha cinema por aqui. Deve ser muito interessante. Mas, não me interesso por esse tal bosque, não pretendo namorar ninguém.
E vai ficar esperando aquele paspalho?
Você é hilária, Amélia.
          Após algumas horas de passeio, Irmã Amélia recebeu um chamado. Era Irmã Átila, avisando que ela precisava receber uma pessoa recém-chegada.
─ Nem me livrei de um, e já me aparece outro bonde!
─ Irmã, tenha paciência. ─ Disse Átila.
Está certo, vou receber essa pessoa com carinho.
Você vai gostar muito dela, também é muito engraçada. E, depois dessa missão, você vai acompanhar Irmã Zefinha à Terra, ela quer muito ver a filha.
Essa não, pra lá de novo?
Anime-se, irá poder visitar sua família também.
É mesmo? Estou ansiosa para revê-los, mas o que será que Dona Zefinha vai querer aprontar por lá?
Bom, isso são assuntos para depois, agora se concentre em atender nossa recém-chegada.
E quem é essa pessoa?
Talvez você já a conheça, pois foi uma atriz famosa na Terra.
Quem será? Espero que não pense que aqui é um palco.
Ela é uma pessoa muito simples, Amélia. Foi muito caridosa.
Então o que estamos esperando? Vamos logo recebê-la.
Ao chegar lá, Amélia, acompanhada de Irmã Átila foi encontrá-la.
Naiara parecia um pouco abatida, não sabia direito onde se encontrava, pensava estar em um hospital, mas sentia algo diferente, uma sensação de muita paz, que não via há anos. Tinha os cabelos brancos, finos e muito lisos, seu semblante era sereno. Embora tivesse a pele um pouco pálida, seus lindos olhos azuis ressaltavam sua beleza, que era muito grande apesar de sua idade.
Estava com muito frio, procurou por seu casaco e não o encontrou, foi quando se deu conta de que não estava com sua bolsa. Pensou, então, que havia esquecido em casa e resolveu ligar para sua filha para pedir que a trouxesse, havia inclusive estranhado a ausência de seus parentes.
Por que será que ninguém veio me visitar? ─ Se perguntou, Naiara.
Ao ver Irmã Átila e Amélia se aproximando, resolveu perguntá-las:
Vocês poderiam me dizer onde posso encontrar um telefone? Eu esqueci minhas coisas em casa e preciso falar com minha filha.
Naiara, que bom tê-la conosco! Eu sou Átila e esta é Amélia, que irá cuidar de você por enquanto.
Estranho, você não parece uma enfermeira... Mas me sinto bem, só quero falar com a minha filha.
Enfermeira? Eu? Pode me chamar de amiga apenas. Mais tarde poderá falar com sua filha, bem mais tarde na verdade. Mas, por enquanto você precisa de repouso, depois temos muito para conversar.
Está bem então, vamos. Mas enquanto descanso, gostaria de assistir a minha novela.
Então, para que ela pudesse relaxar, Irmã Átila deu para Naiara um remédio que a fez pegar no sono.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Assim no Céu, como na Terra - Capítulos 6 e 7


CAPÍTULO 6 – De Volta à Colônia  

─ Irmã Ana!
─ Fale, Amélia
─ Conheci o meu neto! Fiquei emocionada, não esperava tamanha surpresa.
─ Graças a Deus! Ore para que o lar dele seja sempre feliz
─ Os outros também estão muito bem, minha neta está grande! Meu genro está o mesmo de sempre, mas eu vou dar um jeito nele. Mas minha filha me parece um pouco doente.
─ Ela é um pouco frágil, e devido ao seu carma, vez ou outra tem uma doença passageira, mas sua vida será longa. Agora descanse, Irmã, você já se abalou muito.
Amélia estava agora mais ciente de seus deveres e não queria mais ficar ociosa no quarto. Ela pensou em trabalhar na recepção, atendendo a casos menos problemáticos. Então, decide pedir para Irmã Ana ver a possibilidade de executar alguma tarefa no hospital.
─ Irmã Ana, estou me sentindo muito entediada. Será que não tem nada em que eu possa ajudar?
─ Temos que estudar isso com calma. Vamos consultar o Irmão Gabriel. Ele me adiantou que você logo poderá deixar o hospital e se hospedar na casa de uma amiga.
─ Que amiga? Não lembro de nenhuma!
─ Sempre que retornamos à Terra deixamos alguns laços, embora deixemos de lembrar
─ Essa eu quero ver!
─ Na hora certa você saberá...
Na manhã seguinte, Irmã Amélia ouviu um barulho que tirou seu sono. Era a Irmã Átila no interfone, pedindo que ela fosse à recepção.
─ Por favor, venha até a recepção. Há uma pessoa que quer falar com você.
─ Quem será esse estrupício? Tirou o meu sono!
Quando chegou à recepção, Amélia encontrou a encarregada de receber os visitantes: Irmã Regina. Sempre muito simpática e comunicativa, ela pediu para Amélia se encaminhar à sala de visitas. Mas sem entender direito, Amélia retrucou:
─ O que eu vou fazer lá?
─ Há alguém quer falar com você.
─ Quem será essa marmota? ─ Pensou Amélia
Quando chegou lá, se viu numa sala enorme, clara e bem arejada. Havia vários vasos com plantas, todas bastante diferentes das conhecidas e que exalavam um ótimo aroma. Perto de uma delas, sentado num sofá vinho, ela viu Joseph. Ficou muito surpresa ao vê-lo.
─ Nossa, há quanto tempo! Pensei que tinha me esquecido.
─ Nunca nos esquecemos dos entes queridos. Mas infelizmente, estou só de passagem.
Do jeito que era demente, ele só pode estar num lugar entediante. ─ Pensou
─ Errou! Lá é lugar onde há muito movimento, nada fica parado.
─ Aprendeu a ler pensamentos?
─ Depois de um tempo isso fica fácil.
Joseph era um homem carismático, tinha uma expressão séria, mas mesmo assim conquistava todos com a sua tranqüilidade. Na Terra, foi seu companheiro, mas já estava em uma colônia espiritual há certo tempo.
─ Porque você está só de passagem?
─ Daqui a algum tempo eu vou ter que reencarnar.
─ Vai voltar para aquela bagunça?
─ Sim, ainda optei pela Terra.
─ Se eu fosse você, escolheria um lugar melhor...
─ Tenho algumas coisas para terminar lá.
─ Na mesma família?
─ Não posso revelar ainda
Apesar de ser uma ótima pessoa, quando estava na Terra, Joseph foi fumante, o que acabou o prejudicando.
─ Ainda continua fumando?
─ Esse é um dos maus vícios que aprendemos na Terra, mas acredito que ao voltar, isto não vai mais me acompanhar, pois foi uma das causas da minha morte prematura.
─ Tenho certeza que isso não vai mais acontecer com você. Mas, você tem ido à Terra ultimamente?
─ Não, mas tenho visto transmissões. Lá onde estou, há um lugar em que as imagens são muito reais.
─ Pelo menos você foi para um lugar de primeiro mundo.
─ Mas você está muito bem aqui.
─ Então, você deve ter visto nossa família. Você já viu o nosso neto?
─ Sim, antes mesmo de seu nascimento, eu conversei muito com ele, pois estava com receio de ir.
─ E os outros? Você acha que eles vão melhorar?
─ Sim, creio que sim.
─ Até aquele casca grossa?
De repente, ouviu-se uma sineta. No alto-falante, Irmão Gabriel pedia que todos se reunissem no auditório.


CAPÍTULO 7 – Rebelião no Mundo Espiritual

Após o sinal, Irmã Átila foi até a sala de visitas e, aflita, pediu que Irmã Amélia a acompanhasse.
─ Irmã Amélia, temos que ir! Irmão Gabriel irá nos orientar
─ Mas...
─ Ele poderá vir outra hora, pois a colônia dele não passa por esses problemas.
─ De qualquer forma, foi bom revê-la. Em outra oportunidade, virei aqui de novo.
─ Até breve.
Eles foram ao auditório, um lugar muito amplo, com poltronas confortáveis, de onde se viam duas telas enormes. Amélia achou bastante parecido com um cinema, embora fosse mais claro e arejado, dando a impressão de estar ao ar livre. Era onde os espíritos evoluídos davam suas comunicações mais urgentes.
Ela estava bastante confusa, não sabia ao certo o que estava acontecendo.
─ Nossa, esse lugar fica muito longe! Tem alguma coisa para beber?
─ Tem água fluidificada.
─ Flui o que? Para que isso? Não estou doente.
─ A água fluidificada é a água normal, acrescida de fluidos curadores.
─ Era só o que me faltava, eu só ouvi isso no centro espírita.
─ Aqui é parecido, pois as pessoas daqui estão em tratamento.
─ Mas afinal, o que é esse fuzuê?
─ Não é um fuzuê, irmã. Há outras colônias que estão precisando de ajuda. Por isso, todos de Novo Horizonte foram chamados aqui.
─ E o que nós podemos fazer?
─ Logo iremos receber orientações.
Instantes depois, Irmão Gabriel apareceu na tela, explicando a todos a situação em que se encontravam.
─ Irmãos, precisamos de muita calma. Espíritos de esferas inferiores próximas de Novo Horizonte estão tentando influenciar os habitantes da Terra, a fim de criar tumulto através de um país onde foi eleito um presidente com ideias diferentes dos demais. Forças ocultas estão tentando retirá-lo do poder, ou pior. Precisamos de muitas orações e aqueles que podem ajudar, precisam vir conosco à Terra para tentar impedir que isso aconteça. Também iremos receber a ajuda de outras colônias que irão se juntar a nós. Por ora, é só. Estarei contando com a ajuda de todos.
Após as instruções do Irmão Gabriel, todos ficaram um pouco agitados e ansiosos com o que estava preste a acontecer na Terra. Mas, Irmã Amélia ainda não havia entendido muito bem o que aconteceu.
─ O que está havendo, afinal? Qual é o problema com o presidente?
─ Os habitantes da Terra ainda possuem muito preconceito, e os espíritos menos evoluídos, estão se aproveitando disso para levar o caos.
─ Credo! Por aqui também tem isso?
─ Sim, pois nós temos que auxiliar as pessoas da Terra.
─ Como assim?
─ Tentando influenciar sempre para o bem e mandando boas vibrações.

Ao retornar para o Centro de recuperação, Amélia pensou no que iria acontecer na Terra e ficou apreensiva, se perguntando se poderia ajudar de alguma forma. Resolveu então falar com Irmã Átila:
─ Irmã, também quero ir para Terra!
─ Mas, você não está totalmente recuperada ainda, ir para a Terra nesse momento pode ser perigoso.
─ Mas eu já fui à Terra antes.
─ Só que a situação era diferente. Agora estamos passando por um problema grave. Se quiser ajudar, se reúna aos outros que se encontram no Pavilhão de Preces.
─ Pavilhão de Preces?
─ É um lugar onde vários espíritos se reunem para fazer um ciclo de orações e pedir boas vibrações ao pai. Normalmente, todos vão para lá quando há alguma emergência desse tipo. Quando não, geralmente se reúnem ao ar livre para fazer preces. Você também deve ir. Vai te fazer muito bem.
─ Xii, vou virar carola?
─ Não, Irmã. A prece ajuda em todos os momentos.
Mesmo a contragosto, Amélia seguiu a orientação de Irmã Átila. Quando voltou, Irmã Luísa estava esperando por ela:
─ Temos uma missão para você.
─ Missão?
─ Sim, você não disse que estava entediada?
─ O que eu tenho que fazer?
─ Vamos ajudar Angelina. Ela acaba de chegar das esferas inferiores.
Angelina esteve no umbral durante 20 anos, pois não conseguia se conformar com a ausência do seu amado. Ela teve que desencarnar primeiro e eles se separaram. Durante esse tempo, entrou em depressão. Os dois são almas afins, pois reencarnaram juntos muitas vezes, porém após sua partida, Guilherme teve que continuar na Terra. Para piorar, ele decidiu se casar com a irmã dela.
Ao saber da história de Angelina, Amélia fala:
─ Nossa, que besteira! Como alguém pode ficar tanto tempo assim triste por causa de uma paixão.
─ Não devemos criticar, devemos ajudar.
─ Já sei o que vou fazer! Logo logo ela vai sair dessa!
─ O que você pretende fazer?
─ Eu acho que aqui deveria ter passeios para os jovens, festas, coisas do gênero.
─ E tem, só que ela ainda não está preparada para isso.
─Agora fiquei intrigada, como são esses passeios?
─ Existe o vale dos namorados, onde eles trocam juras de amor. Também há uma praça recreativa, onde os amigos se encontram para conversar e, juntos, tirarem suas dúvidas. Acontecem também alguns shows especiais, com orquestras de música clássica, e outros gêneros. Além de tudo, em alguns pontos, há telões onde passam estórias educativas. Ah sim! Esqueci de mencionar os parques aquáticos, com praias e piscinas. Tudo isso sem nenhuma agitação ou tumulto.
─ Praia? Não, essa não dá para acreditar!
─ Você também pode conhecer esses lugares futuramente. Mas, agora não é a hora, por enquanto você deve se dedicar apenas a ajudar a jovem Angelina.
Então, Irmã Luísa chamou Amélia para lhe dar uma boa notícia.
Dentro de poucos dias você poderá sair do centro de recuperação.
─ Finalmente! Mas, pra onde eu vou?
─ Você poderá morar em uma vila próxima ao hospital. É para lá que vão as pessoas recém recuperadas. Você vai ficar com a Dona Zefinha.
─ Com quem?
─ Dona Zefinha é uma senhora idosa muito simpática. Atende às pessoas com muito carinho, e é querida por todos.
─ E como é essa casa?
─ É uma enorme vila, com chalés todos iguais. Há árvores frutíferas no quintal e na frente, jardins muito floridos. Além disso, tem um bom clima e é um lugar muito agradável. O seu quarto ficará na parte superior. Com uma enorme janela, onde você poderá ver os jardins. Nas proximidades da vila, tem um lago com águas cristalinas e junto há uma fonte, onde as pessoas se reúnem para passear e conversar.
─ Eu vou ter que ficar muito tempo na casa dela?
─ Até você poder ter a sua própria casa. Mas você vai gostar dela, vai notar que a conhece faz muito tempo.
─ Como assim? Eu não lembro disso!
─ As lembranças vão aparecer aos poucos.
Enquanto Amélia pensava em sua nova casa, a sirene tocou novamente:

Tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

─ O que é isso? O mundo está se acabando?
─ Não, estão chamando os escolhidos para ir à Terra.
─ Quem são esses?
─ São os irmãos que estão mais preparados para esse tipo de situação.
─ E nós, fazemos o quê?
─ Só podemos nos recolher ao pavilhão de prece e orar por eles. Ou, se preferir, podemos ir aos nossos aposentos e orar individualmente. O importante é enviar bons fluidos.
Nesse momento, a Terra ainda estava passando por alguns conflitos e os espíritos endurecidos se aproveitavam para tentar causar o caos, provocando guerrilhas e hostilidades entre os países. Apesar disso, os irmãos enviados faziam o possível para convencer os líderes a manter a paz, enquanto outros mentores estavam tentando dissuadir os revoltosos. Porém, surgiam muitas dificuldades criadas pelos espíritos rebeldes que influenciavam a Terra.
─ Vamos torcer sempre para que tudo termine bem, mesmo que demore um pouco.
─ É, espero que tudo fique bem. Certo, enquanto isso, talvez seja mais útil cuidar da minha missão. Vou me preparar para ajudar Angelina.

No Centro de Recuperação existe uma ala que é voltada para receber os espíritos recém chegados das esferas inferiores. Muitas vezes eles levam algum tempo para se adaptar ao novo lugar. É necessário o auxílio de irmãos que tentam ajudar esses espíritos a se desprender do seu passado. Mas, é preciso ter muita paciência para executar essa tarefa.
Amélia estava muito empenhada em ajudar Angelina, que se encontrava agora na sala de recuperação. Lá, ela recebia ajuda de muitos médicos e enfermeiros. Apesar de sua aparecia ainda abatida, estava melhorando pouco a pouco. Sempre que podia, Amélia ia visitá-la.
─ Você se sente melhor?
─ Acho que sim. Mas, estou com dor de cabeça.
─ Isso é normal. Não se preocupe, com o tempo tudo passa. Ele é o melhor remédio.
─ Parece até que o tempo não passa por aqui.
─ O médico falou que na próxima semana você já poderá passear pelos arredores. Você vai descobrir belas paisagens, até mais bonitas que as da Terra.
─ Não tenho vontade de nada.
─ Anime-se! Não fique ai parada com essa cara lesa.
─ Mas...
─ Sabia que aqui também existem lugares para namorar?
─ Não estou interessada em ninguém daqui.
─ Como dizem os jovens, a fila tem que andar. ─ A princípio, Angelina pensou que Amélia iria ser mais uma daquelas chatas autoritárias, mas ao conhecê-la, viu que na verdade era uma pessoa muito simpática e às vezes até cômica.
─ Você é muito engraçada. Está sempre de bem com a vida.
─ É assim que todos deveriam se sentir.