domingo, 29 de maio de 2011

Assim no Céu como na Terra: 18

CAPÍTULO 18 – Na Colônia de Férias     

A cidade era muito aconchegante e o pequeno hotel parecia encantar a todos. Era pintado de rosa e na entrada podia se ver um enorme jardim com várias espécies de flores, muito bem cuidadas. Havia um lago de água límpida e uma cachoeira bem grande, próximos aos fundos do hotel. Tudo parecia perfeito até de mais. Na porta havia uma senhora de meia idade muito sorridente. Recebeu todos com muita simpatia e presteza. Chamou um senhor para mostrar os chalés por dentro e disse iriam gostar muito de lá. Não é à toa que todos a chamam de cidade do sossego.
E o hotel? Qual é o nome dele?
Hotel Verdes Campos.
É interessante, gostei muito da aparência dele. Acho que serão as férias perfeitas.
Xii, não gosto de nada muito perfeito, soa falso.
Amélia! Você já quer botar areia em tudo? ─ Reclamou dona Graça.
Meninas, estamos aqui para descansar, não para brigar.
Só estamos questionando. Eu quero ficar num quarto sozinha, não vou ficar com dona Graça.
Lamento, mas as três terão que dormir juntas. Essa foi a ordem de Miguel. ─ Falou dona Kalina, a responsável pelo hotel.
Bolas! Miguel sempre nos trata como criança...
Os quartos são bem amplos, há uma suíte e uma varanda enorme, que tem vista para o lago.
Então vamos nos acomodar.
E seu namorado, Angelina, quando vem?
Creio que na próxima semana. Ele ficará num pavilhão onde só tem homens.
E por que isso?
Não sei.
Coisa assim, só pode ser ordem de Miguel.
Amélia, Miguel sempre quer o nosso bem e faz tudo para isso.
É, mas às vezes ele exagera.
Não discuta com ela, Angelina, ela sempre quer ter razão.
Graça, acho que vou levar você para ficar com Naiara.
Nem pense, eu não gostei de lá.
E você foi lá?
Não, mas vi na tela. Lá é um lugar muito pequeno.
Mas é para lá que vão as pessoas chatas.
Amélia, se continuar se irritando, vou pedir para Miguel cancelar o passeio ─ Disse Angelina.
Vamos, está não hora de conhecer melhor o chalé.
A recepcionista as levou até o guia. Ele fez questão de mostrar todos os detalhes do hotel, que parecia realmente muito acolhedor. Tinha várias fontes, cada qual com sua função revigorante. Havia uma chamada de “Senhor Cosmo”. Dizia a lenda que Cosmo foi um senhor que estava quase sem força e depois de tomar vários banhos nessa fonte, conseguiu se revitalizar e ficou com uma energia muito boa. Ele recomendava o banho para todas as pessoas que se sentissem fracas ou deprimidas.
Eu queria conhecer esse Cosmo, parece ser uma figura.
Ele se mudou daqui já faz um bom tempo, mas deixou boas lembranças.
E ai, Amélia, quer arrumar um namorado? ─ Perguntou Graça.
Você é mesmo louca! Nunca vai se curar!
Calma, Amélia, ela só está brincando.
Parece que nem sei...
Vamos tomar banho de cachoeira, quero aproveitar logo!
Vamos, estou muito curiosa. E se Graça me encher, vou afogá-la.
Não! Eu não sei nadar!
Ela está brincando, Graça. Sei que Amélia nos ama.
É, mas não abuse disso.

As três passaram horas se divertindo no chalé e puderam aproveitar muito o dia ensolarado com toda a sua energia e finalmente, depois de tantas controvérsias, Amélia e Graça se uniram. Uma acabou sendo a companhia da outra após a chegada do namorado de Angelina, que não desgrudou dela.
Ele se chamava William, um rapaz alto, forte e galante, parece estar sempre de bem com a vida e gosta de transmitir alegria por onde passa. Todos o consideram muito.
Clarice chegou dias depois, estava muito contente por poder passar uns dias com Amélia antes de regressar novamente à Terra. Ela era uma luz para todos naquela cidade. Sua altivez e coerência impressionavam os hóspedes. Tudo corria bem, mas Graça notou que Amélia estava um pouco tristonha e quis saber o porquê.
         ─ Eu soube que Angelina também vai regressar à Terra. Vou ficar sozinha outra vez naquela casa.
Mas ela ainda vai demorar um pouco para ir, Amélia. ─ Falou Clarice para confortá-la.
Sei disso, mas é que me apeguei muito a ela. Miguel me disse que já fomos irmãs em outras épocas.
Tente se alegrar e torcer para que Angelina seja feliz na Terra.
Claro que torço, mas é que todos estão partindo e sem falar em Joseph. Ainda não consegui descobrir o paradeiro dele.
Amélia, Graça, estava procurando por vocês há horas e as duas aqui, perto da fonte! ─ Disse Angelina, que vinha correndo de dentro do chalé.
Essa é uma das fontes mais bonitas daqui, tem algo de bom em sua volta.
Claro, todas as águas daqui são cristalinas e têm boas energias.
Amélia está se sentindo só. Acha que quando voltarmos para a Terra ela vai ficar solitária.
Mas é obvio que ninguém fica solitário aqui. Está para chegar a irmã de Angelina, e vai precisar de muito carinho. Ela é um doce de moça. ─ Disse irmã Luísa.
Vai ficar lá em casa?
Por enquanto ficará no centro de apoio. Só depois de alguns meses é que poderemos decidir melhor. Mas, mudando de assunto, eu soube que aqui também faz um pouco de frio e à noite é preciso usar a lareira.
É, o ar daqui é típico de campo. Mas, é um ar bem melhor do que todos que já conhecemos na Terra.

E assim, a semana se passou bem rapidamente para as amigas. Elas puderam aproveitar o máximo de tudo que lhes era oferecido.
Nos últimos dias, Amélia conheceu Flávio, um médico bastante dedicado que cuidava de seus pacientes com muito carinho. Os dois fiaram bem próximos, as afinidades entre eles eram grandes. Mas, Flávio não morava na mesma cidade de Amélia.
Ele morava num lugar um pouco mais distante. Amélia e ele aproveitaram aquele momento de lazer para se conhecer e até plantar uma semente de amor para o futuro. Só que tudo parecia um pouco complicado, achava Amélia. Para ela, Flavio nunca iria se interessar por ninguém, muito menos por uma pessoa que tivesse em condições diferentes da dele. Ela achou melhor só curtir a sua amizade e absorver ao máximo seus conhecimentos.
          No último dia da viagem, estava tristonha, pensativa. Já sentia a saudade de um não sei bem que em seu coração. E quando Flávio se despediu, dizendo que quando pudesse, iria até Novo Horizonte visitá-la, ela ficou um pouco acanhada, não sabia ao certo se era uma simples visita amigável ou amorosa, mas Flávio continuou alegre e seus olhos brilhavam de emoção e carinho por ela.
         ─ Amélia, ele gostou de você. Quem sabe, no futuro, poderá ser seu parceiro.
         ─ Gostou? Mas gostou como um amigo apenas... Vocês estão vendo demais.
         ─ Os olhos dele brilharam muito quando falava com você. ─ Falou Angelina.
         Aí, hein, Amélia? Arrasando corações! ─ Disse Graça, para cutucar Amélia.
        ─ Se vai começar de novo, eu vou deixá-la aqui mesmo!
        ─ Graça, ela não gosta dessas brincadeiras.
        ─ Então por que vive brincando com os outros?
        ─ Meninas, o transporte já chegou, vamos, vocês têm hora para voltar. O trabalho as espera. E eu fico por aqui mesmo, o meu só chegará amanhã, pois minha cidade é muito perto daqui. Acho que agora vou me preparar para regressar, e nos veremos em breve. ─ Se despediu Clarice.
       ─ Não quero me emocionar, vou caminhando para o micro-ônibus. Até mais para todos.




















sábado, 21 de maio de 2011

Assim no Céu como na Terra Capítulos 16 e 17

 CAPÍTULO 16 - Na Cidade de Naiara          
A cidade de Naiara era bem pequena, poderia até caber em uma das vilas de Novo Horizonte. Há alguns anos atrás, era apenas uma aldeia, aumentando depois com o passar do tempo. Mesmo não sendo grande, era muito simpática e aconchegante. Os habitantes eram simples e um pouco retraídos, tinham um ar de mistério. Mas, no geral eram boas pessoas.
Ela mora numa vila bem simples, sua casinha, que ficava no começo da rua, era confortável, mas minúscula. Muito bem arrumada. Sua prima fazia questão de mantê-la limpa e bem arejada. Na sala, havia um janelão, onde Naiara ficava quase sempre esperando por visitas. Ela dificilmente saia de casa, apenas para fazer alguns cursos, quase que obrigada. De tanto Julieta falar e aconselhá-la ir, ela acabava concordando, só para não criar confusão.
Quando Amélia e Angelina chegaram, foram muito bem recebidas por Julieta e Naiara. Elas ficaram muito contentes com a presença das duas na casa. Lá, também se tem o hábito de oferecer frutas aos visitantes. E dormiram numa bicama confortável no quarto de Naiara. Tudo lá cheirava a um aroma muito agradável que lembrava o cheiro de bebês. Enquanto Naiara saiu para fazer algumas compras, Julieta aproveitou para pedir que Amélia e Angelina incentivassem Naiara a manter-se ocupada, pois Julieta estava prestes a viajar e se preocupava em deixá-la sozinha.
Não se preocupe, Julieta, os benfeitores vão ajudar, ela nunca ficará sozinha.
Imagine quando Bola chegar?! O quê ela vai ensinar-lhe?
Quem é esse? ─ Perguntou Amélia.
Era o marido dela na Terra. Esse é seu apelido.
Mas, ela já sabe que ele vem?
Não, ainda vou contar. Ele passou muito tempo se recuperando, pois na Terra, vivia bêbado e acabou com toda herança de sua família.
Que Horror! Por isso nunca criei raízes com marido.
Amélia, cuidado com as palavras ─ Disse Angelina ─ Não ligue, Julieta, Amélia às vezes é franca demais. Quem não a conhece estranha seus modos.
Não se preocupe, filha. Já estou acostumada com essas coisas. Já convivo com Naiara já há algum tempo.

Naiara, que havia saído para comprar frutas fresquinhas para as visitas, retornara e, quase sem ser percebida, ouviu falar no seu nome.
         ─ Sim, insuflando os visitantes contra mim, não é? Sua prima desnaturada?
Naiara, o quê é isso?
Não se preocupe, amiga, nós só estávamos falando um pouco da vida de todos.
Vamos lanchar, meninas. ─ Convidou Julieta, tentando mudar o assunto.
Sim, mas não vamos comer muito, ou podemos engordar. ─ Brincou Amélia.
Depois do lanche, Julieta convidou as visitantes para ir ao evento que aconteceria no sábado:
Vocês gostariam de nos acompanhar ao evento de inauguração da primeira Faculdade da nossa colônia.
Claro, estou muito curiosa para conhecer. Como será que deve ser uma Faculdade aqui?
Parecida com as da Terra, mas com cursos e formas de aprendizado diferentes. Alias, estou tentando convencer Naiara a entrar também.
         ─ É ruim hein! Como se já não bastasse ter que aturar o estafermo do meu marido, ainda vou ter que dar uma de universitária a essa altura?
Quando soube que ele virá?
De vez em quando falo com Dona Graça pelo telefone. Ela nunca me esconde nada.
Só podia ser mesmo Dona Graça.
Mas, relaxe, estou me preparando aos poucos. Mas, deixa isso pra lá, vamos falar de coisas boas. Recebi um convite para cuidar de um abrigo, mas só devo ir lá por algumas horas e nos finais de semana. Vou contar algumas histórias para as velhinhas e fazê-las sorrirem. Tive uma vida muito engraçada.
Que ótimo! Não sabíamos dessa novidade.
Só descobri hoje pela manhã.
Estamos todas muito felizes, Naiara.
Mas, bola pra frente, que atrás vem gente!
Quando voltarmos, iremos contar a novidade para Irmã Luísa. Ela vai ficar muito contente.
         ─ Nem fale em voltar agora, afinal vocês ainda deve ficar mais alguns dias aqui.
É mesmo. Falando nisso, ontem irmão Miguel nos avisou que podemos ficar mais uma semana. E assim, acompanharemos você na visita ao abrigo.
Ótimo, não precisarei sair sozinha de casa. É que às vezes ainda tenho um pouco de receio.
Mas agora é bem diferente, você não será perseguida por ninguém, Naiara. Já que aqui não tem nenhum paparazzi.
Nem tente, ela nunca nos ouve...

E assim, após os quinze dias de permanência na casa de Naiara, as meninas puderam levar alguns ensinamentos para aquela alma rebelde. Só restava agora acreditar que ela estava preparada para receber Bola, que iria requerer muita paciência para se conduzir ao caminho do bem.
Na casa de Naiara, ela e sua prima falavam sobre a chegada dele:
Mas por que será que ele não foi para a casa da mãe dele, Dona Filomena?
Engraçado, quando eram casados, você não simpatizava com ela.
As coisas mudam, e depois de algum tempo, percebi que ela era uma vitima daquele alcoólatra imprestável.
Mas, tudo isso já se passou há anos. Tente focalizar o presente. Ele agora já se recuperou, só faltam uns ajustes e cabe a você ajudá-lo.
Bem, se é assim... Cuidarei desse estrupício! E espero que ele não me dê muito trabalho...

Quando retornaram a Novo Horizonte, Amélia e Angelina estavam animadas, sentiam que pelo menos a vida de Naiara não seria a mesma. Ela estava se recuperando rapidamente e podia ser até que não precisasse mais voltar a Novo Horizonte. Talvez, aquela pequena cidade fosse mesmo o lugar ideal para que Naiara pudesse se regenerar totalmente.

CAPÍTULO 17 – Uma Nova Missão

No dia seguinte, Angelina recebeu um telefonema orientando-a para ir ao hospital central e pedindo que também chamasse Amélia, pois as duas iriam novamente cumprir uma tarefa juntas. Angelina se apressou e logo foi correndo procurar Amélia para dar a notícia, mas não a encontrou. Resolveu, então, ir sozinha ao hospital. Quando estava saindo, encontrou com seu Inácio, que estava cuidando dos jardins e a cumprimentou alegremente. Ele, no entanto, percebeu sua preocupação e quis saber o porquê daquela rusga. Angelina disse-lhe que sua amiga havia saído sem deixar notícias. Só então ele se lembrou de do recado que Amélia havia deixado.
Desculpa, senhorita, mas eu me esqueci de avisar que Amélia foi logo cedo para a creche, substituir uma das professoras que teve de se ausentar hoje. Ela foi chamada assim que amanheceu e não quis acordá-la para dar a notícia.
Mas, irmão Miguel pediu que fôssemos ao hospital central, ele tem uma tarefa para nós. Mas, onde fica essa creche?
Ah, fica um pouco longe daqui e o próximo transporte só sai daqui a algumas horas.
Bem, acho melhor ir sozinha, então.
Quando ela voltar, eu avisarei.
Se encontrar com ela, diga-lhe que vá até o hospital central, por favor.
Claro, mas creio que ela chegará tarde. Se a encontrar, darei o recado.

E no meio do dia, Angelina, que já estava no hospital central falando com Irmão Miguel, pode finalmente saber de que se tratava a tarefa. Teve um espanto muito grande em descobrir que iria participar de uma missão um pouco difícil para ela. Pensou em seguir sozinha, mas Irmão Miguel aconselhou-a a esperar por Amélia. As duas poderiam se revezar nesse trabalho e não se sentiriam tão sozinhas.
Amélia chegará logo e então marcarei a viagem para vocês. É muito urgente, não podemos esperar muito. ─ Disse Irmão Miguel.
Quando Amélia chegou e soube de sua nova tarefa, ficou um tanto aflita. Hesitou ao pensar no que poderia causar se falhasse. Mas, Irmã Luísa pediu que tivesse calma, pois também iria acompanhá-las para dar-lhes mais apoio.
        ─ Bem, sendo assim, acho que vou ter que aceitar. Quando iremos para lá?
        ─ Hoje mesmo. É só o tempo de repassarmos alguns dados para Luísa e Marcos, que vão acompanhá-las. ─ Explicou Irmão Miguel.

Era difícil voltar à casa de Zefinha, que agora se chamava Clara e estava com sete anos. Ela era uma menina muito inteligente e bondosa, mas estava morando em um lar um pouco desarmônico. Nos últimos dias, contraiu uma virose que a deixou certo tempo de coma. No seu estado de quase desprendimento, queria ir embora, pois não aguentava ver seus pais brigando todos os momentos. Mas, a tarefa de Amélia e Angelina era justamente a de convencer a amiga a ficar e encontrar uma maneira de ajudar os pais.
         ─ Só mesmo amigas tão queridas para me ajudar nessa hora tão dolorosa, ainda bem que vieram. ─ Disse Zefinha. Enquanto estava de coma, ela conseguia se lembrar de como era antes de voltar à Terra, pois, devido à sua pouca idade, ainda não estava totalmente ligada a seu novo estado.
Nós estamos aqui e também há outros amigos por perto, mas você não consegue vê-los. Tente reagir a essa doença, logo você ficará boa. Seus pais a amam muito. Você vai ser um elo de amor para eles.
Acho que não. Desde que nasci, só os vejo brigando.
Eles são muito jovens, logo encontrarão um caminho melhor. Estamos aqui para ajudar você a ficar boa. Tenha força, não vai deixar que uma bobagem te faça perder o seu esforço de anos. Além do mais, você sabe que lá não é tão divertido assim. E também tem que passar por tudo outra vez... Nada disso, fique aqui por mais um bom tempo.
Só você, Amélia, para me dizer coisas engraçadas nessas horas. Talvez tenha razão. Levei anos para poder chegar aqui novamente. E sair assim, seria um fracasso.
Isso mesmo, amiga. Vamos ficar com você até que se cure totalmente. E quem sabe, poderá nos visitar nos sonhos.
Pouco tempo depois, Clara retomou sua consciência e já se sentiu bem melhor, mesmo sem lembrar do que havia visto.
Os médicos ficaram bastante otimistas ao ver a sua recuperação e seus pais, que antes estavam muito abatidos, se alegraram muito em vê-la bem, nem lembraram mais que estavam brigados.
Parece que tivemos êxito, Amélia. Os médicos já estão mais seguros. O quadro de Clara está bem melhor agora. Só que ela ainda não sabe que vai ter que usar a cadeira de rodas por um tempo. ─ Comentou Angelina, que conversava com Amélia no quarto do hospital, enquanto os médicos examinavam Clara.
E acho melhor não saber. Só devemos mostrar isso depois e de uma maneira muito cuidadosa.
Mas, ainda bem que será só por uns tempos. Enquanto isso, seus pais ficarão juntos para poder ajudá-la melhor. Só assim eles vão se harmonizar. “Se não vai pelo amor, irá pela dor”.
Ora, não seja pessimista, Angelina. Mas, espero que esses dois malucos fiquem calmos e pacíficos. Se não, irei tapar-lhes a boca!
Amélia, tenha calma, sua tarefa é de levar a paz e tranquilidade para Zefinha. Deixe os pais delas com os outros benfeitores.
Esses molengas...

E o tempo passou rápido naquele hospital da Terra. Após uma semana de internada, Clara teve alta e voltou para casa com seus pais, que diante do medo de perder a filha, ficaram mais unidos e resolveram agir com muita cautela no lar, o que ajudou muito na recuperação de Clara. Apesar de ainda ter que usar cadeira de rodas, ela pode perceber a paz no seu lar.
Ainda bem que é só por pouco tempo, não é, doutor? ─ Perguntou Clara.
É, querida, vamos ajudá-la a superar essa fase.
Claro, meu bem, claro ─ Disse a mãe.
Alguns dias depois, a família de Clara estava bem unida. Todos queriam fazer o possível para que ela se recuperasse mais rápido. Nada como o amor dos pais para fazer com que as crianças possam melhorar.
Após essa missão, que precisou de um pouco de paciência para ser cumprida, as amigas finalmente puderam seguir para sua cidade e quando chegaram lá, foram recebidas com muita alegria por irmã Átila e irmão Miguel. Eles estavam muito satisfeitos com o término da tarefa. Além disso, uma boa surpresa as aguardava.
─ Só espero que nos deixe descansar um pouco.
Claro, Amélia, vocês irão poder descansar esses mês numa estação climática, cheia de flores e com piscina termal. Vão adorar, o lugar é um verdadeiro paraíso!
Gosto muito de flores, mas não gosto de banho de piscina, tenho medo de me afogar. Não sei nadar.
Querida, você poderá ficar à vontade no chalé e, se preferir, poderá só observar o ambiente.
Vamos, Amélia! Teremos a chance de descansar e participar de um lazer. Você não diz que aqui é tudo muito parado?
Mas, você vai com seu namorado. E eu? Vou ficar segurando vela?
Dona Graça e irmã Clarice também irão com vocês.
Mas Clarice não ia voltar pra Terra?
Sim, mas ainda terá algum tempo.
Então, já estou me animando. Quando iremos?
Daqui a uma semana.
Ah, pensei que fosse agora!
Primeiro vamos preparar um relatório do caso de Zefinha e ainda temos alguma coisa para resolver sobre Naiara.
Essa não! Pensei que Naiara estivesse bem.
Sim, por isso mesmo vamos resolver se ela deve permanecer lá ou voltar para cá.

Após alguns dias, os benfeitores resolveram que Naiara deveria continuar em sua nova cidade. Ela já estava se harmonizando com Bola e conseguindo ensinar-lhe boas maneiras. E assim esse caso foi encerrado.
Zefinha, ou melhor, Clara, estava muito bem com sua família e logo logo iria receber mais um irmãozinho para lhe fazer companhia. Todos pareciam bem. Só Dona Graça dava trabalho, pois ainda relutava com a ideia de ficar solteira. Ela dizia que poderia ser enfermeira e se casar. Irmão Miguel explicou-a que isso ela só irá decidir no futuro. Se conseguir dar conta, poderá até merecer essa alegria.
Não sei por que insistir nessa besteira, é tão bom ser livre, liberta de tudo! ─ Disse Amélia.
Ninguém nunca está livre de tudo, Amélia. Tente entender o lado romântico dela.
Bem, eu acho... Não importa o quê acho! Vocês nunca vão entender, melhor me calar.
Meninas, dona Graça é quem deve decidir, a vida é dela.
Eu quero ter um marido, noivo ou sei lá o quê. Não quero ficar pra tia.
Vamos deixar para resolver isso quando estiver mais próximo de sua partida. Agora se prepare para curtir a colônia de férias com suas amigas.
Amigas? Amigas da onça! Querem me ver sozinha.
Dona Graça, não repita isso, ou vou cancelar sua viagem.
Não, espere! Não faça isso, quero muito me divertir.



domingo, 15 de maio de 2011

Assim no Céu como na Terra - Capítulos 14 e 15

CAPÍTULO 14 – Reconstrução em Conjunto

Depois de algumas horas, eles estavam de volta, e algo estranho os aguardava. Tudo estava em completo desalinho, parecia até que era uma outra cidade.
Nossa, será que chegamos ao lugar certo? Até parece que um furacão passou por aqui.
Nós recebemos a visita de alguns revoltosos que queriam causar tumulto ─ Esclareceu Irmã Átila.
De onde eles vieram?
Vieram das outras moradas mais abaixo, perto dos vales. Mesmo fazendo toda essa bagunça aqui, eles não conseguiram passar da barreira de proteção, que fica mais adiante. Só fizeram desordem nos campos. Descamparam alguns trechos, derrubando árvores, mas Irmão Gabriel conseguiu dissolver a turba.
Sempre o nosso amigo Gabriel. O que será de nós quando ele não estiver mais aqui?
Não sei, filha, de qualquer modo, ele retornará em breve para a Terra. Mas, Irmão Miguel o substituirá.
Eu que não quero ir mais para a Terra.
Amélia, devemos ir quando for a hora.
É ruim, hein! Vou ficar por aqui.
Deixe-a, Luísa, ela ainda tem muito a aprender...
Falando nisso, Zefinha, teremos ótimos cursos nesses próximos meses. Todos vão participar. ─ Disse Luísa.
Tem razão, há cursos muito bons para fazermos. Mas, antes de qualquer coisa, temos que reorganizar a colônia, que está um caos.
A partir de então, todos trabalharam com muito afinco para restaurar Novo Horizonte, que aos poucos, começou a ganhar um novo aspecto.
Agora sim, isso está ficando com cara de um lugar decente!
Realmente, depois de tanto trabalho, conseguimos deixar até melhor do que estava antes. ─ Disse Zefinha.

Após a reconstrução da cidade, Amélia passou a se distrair mais e a aprender várias coisas interessantes de uma maneira que nunca tinha visto na Terra, o que contribuiu para deixá-la mais feliz.
Certo dia, ela passeava com Angelina, que também estava revigorada e auxiliava na harmonização dos lares na Terra quando, de repente foi chamada por Neide, a recepcionista do Hospital:
Irmã Amélia, você tem visita!
Visita? Mas quem iria querer me ver?
Uma pessoa amiga.
Ainda bem que não é inimiga...
Quando chegou à sala de visitas, ela encontrou Joseph, que estava sentado no sofá.
Joseph? Por aqui novamente?
Eu disse que voltaria.
Você soube de minha mãe?
Sim, ela está muito feliz, mas daqui a alguns anos irá voltar para a Terra.
Ora, que mania de vocês em voltar, voltar...
Mas, Amélia, é assim que colocamos em prática nossas missões. Eu também voltarei para lá em breve. Essa será a minha última visita a você.
Você não pode adiar nem um pouco?
Ainda não está tão próximo. Preciso me preparar melhor, pois quero ser uma pessoa de bem.
Mas você já foi!
Quero ser ainda melhor. Tenho uma boa notícia: vou passar uns dias aqui. Ficarei na casa de um amigo também e poderei fazer um curso de ajuda fraterna durante quinze dias.
Isso não é quase nada.
Mas vamos aproveitar para conversar um pouco até eu ir.
Bem, seria ótimo, eu nunca me distraio aqui, só ouço baboseiras...
Mas, aqui é um bom lugar, é só saber procurar as belezas que estão escondidas.
Beleza? Que beleza?
Nunca soube que existem lagos e praias maravilhosas aqui? E também há ótimos cinemas.
É mesmo? Esse tempo todo aqui e eu nunca vi nada disso!
É sim, mas, antes devemos ir aos cursos que serão dados na próxima semana. Nunca perco um na minha cidade, são muito interessantes.
─ Os que eu vi são realmente muito bons.
─ Então, vamos nos matricular?
Sim, Já que vamos lá, podemos aproveitar também para conhecer as salas de aula.
Salas de aula? Será ao ar livre, em um campo! Vejo que você ainda tem muito para conhecer aqui.
Como você conhece tudo isso? Já morou aqui?
Passei uns meses aqui, na casa de um grande amigo.
É mesmo, de quem?
Do Carillo.
O Dr. Carillo?
Sim, ele é uma ótima pessoa.
Não me lembro bem dele.
Agora ele se mudou para outro lugar e casou-se com uma moça muito bondosa.
Essa não! Ainda preciso aprender muito para me acostumar com as coisas daqui. Até parece que estou sonhando, é muito estranha essa história de noivado e casamento aqui em cima.
Por isso precisamos estar sempre nos atualizando.
Você sabe por que não consegui visitar os meus parentes do sul?
Imagino. Eles devem estar em desarmonia e vê-los não seria bom para você.
O quê poderia me acontecer?
Você nem imagina. Nunca teime com os benfeitores, o que eles fazem é para nos ajudar. Mas, nós só conseguimos entender mais tarde.
Você e sua paciência de Jó...
Amélia, vamos aproveitar o tempo para nos informar melhor sobre as coisas, não sei quando nos veremos outra vez.
Nem fale isso, já estou com saudades!
E após alguns meses, Amélia se despediu de Joseph, pois ele deveria ficar em um lugar quase que isolado, para se inteirar de sua nova missão na Terra.


 
CAPÍTULO 15 – Alguns Ajustes


Todos estavam bem na Colônia Novo Horizonte. Parecia que tudo voltava ao normal, as ondas de revolta já não os perturbava mais. Depois de alguns irmãos terem ido para os vales com a missão de esclarecer os moradores, eles já não se rebelavam e conseguiam conviver com mais harmonia. Alguns, mais exaltados, eram encaminhados para outro setor, próximo aos campos e lá ficavam aprendendo com a natureza e com os benfeitores que ministravam aulas para eles. Só mesmo os emissários, com muita calma e habilidade, para conseguir conter os revoltosos.
O dia amanheceu ensolarado e Angelina convidou Amélia para um passeio nos jardins, quando Irmã Luísa a pediu que viesse à sala de estar.
O quê será dessa vez?
Não se preocupe, deve ser alguma notícia boa ─ Tranquilizou-a Angelina.
Ao chegar lá, Irmã Luísa foi logo dizendo que tinha uma novidade para elas e estava certa de que iriam gostar.
Então diga logo! Estamos muito curiosas.
Calma, Amélia, já vou dizer: tenho ordens superiores para dar alta a Angelina e sugiro que ela fique no chalé com você.
Que ótimo! Vou ter alta!
Isso seria bom, mas Zefinha que é a dona da casa. Já falaram com ela?
Zefinha vai descer novamente para Terra em breve.
Mais essa não!
Será para o próprio bem dela. Zefinha tem coisas para refazer. Além disso, ela vai deixar a casa com você.
Onde ela está agora?
─ Fazendo um breve curso. Quando voltar, só ficará aqui por mais alguns dias. Amanhã, se Angelina quiser, já pode ficar lá até achar algum parente. Ah, já ia me esquecendo: Dona Graça vai ter alta também e creio que ela poderia ficar com vocês, não é?
Ah, não. Essa aí é completamente lunática!
Mas, Amélia, ela é bem divertida, acho que não teremos problemas ─ Disse Angelina.
Se você acha...
Ela ficará por pouco tempo, logo logo também irá retornar.
Coitados dos próximos pais dela.
Amélia, não seja pessimista.
E Naiara?
Está ainda irá ficar por um bom tempo, até que tome consciência de que não estamos aqui só para fazer a vontade dela. Certa vez tentou até subornar um vigia para usar um celular e falar com seu filho.
Coitada, ainda está demente...
Mas, isso passará logo.
Assim espero, ou terei que mandá-la para outro lugar.
Não façam isso! Se quiser, posso tomar conta dela, assim como Irmã Amélia tomou conta de mim.
─ Pensando bem, talvez isso pudesse mesmo ser bom para ela. Depois conversaremos mais sobre isso. Bem, meninas, amanhã é o dia de Angelina se preparar para a mudança.
Só então, a presença de Dona Graça foi notada. Ela havia acabado de entrar na sala e foi logo dizendo:
Eu posso ir morar com vocês, mas vou avisando logo: só durmo com a luz acesa, pois tenho medo das bruxas...
Dona Graça, por aqui não existem bruxas!
Mas eu já vi uma na montanha dourada. Quando morava lá, me assustava com seus gritos.
Montanha dourada? Onde fica isso?
É um lugar bem distante daqui. Essa montanha é muito alta e também muito clara, mas sua claridade não vem do sol. Dona Graça morou lá antes de vir para qui.
E lá existem bruxas?
Há lugares em que a imaginação é muito fértil e os irmãos com pouco conhecimento imaginam que são seres sobrenaturais. Mas, isso são apenas suas vibrações. Dona Graça, de agora em diante tente esquecer tudo isso. Você fará novas amizades aqui e vai aprender muito mais.

Nos dias seguintes, Graça se mudou para a casa de Zefinha. Sua adaptação, ao contrário do que esperava Amélia, foi muito rápida, e logo, as três se entrosaram. Em pouco tempo, Angelina, e Amélia estavam felizes e se divertindo no chalé com as maluquices de Dona Graça, Mas, a notícia de que Naiara iria se mudar para outra cidade deixou-as tristes e preocupadas com a amiga.
Naiara não conseguiu se adaptar à Colônia Novo Horizonte. Ela ainda teimava em não ouvir os conselhos dos irmãos Miguel e Josué, que tentavam colocá-la num curso de vivência social comunitária. Angelina também passava horas ensinando Naiara a ter um comportamento mais harmônico com todos.
A gota d’água foi quando ela saiu gritando nervosa pelos corredores do hospital, dizendo que a enfermeira, a irmã Jacobina, tentou matá-la misturando leite com veneno. Tudo isso, só por que a diretora pediu para que tomasse o seu remédio na hora certa, e parasse de tentar se comunicar com seu filho pelo celular.
Jacobina ficou muito triste em pensar que pudesse causar uma reação de medo em alguém. Os irmãos superiores disseram que Naiara deveria passar uns tempos em outra cidade para poder avaliar melhor sua conduta e só poderia voltar para Novo Horizonte quando estivesse bem harmonizada com todos. Ela ficou chateada, mas teve que obedecer às ordens superiores, pois sabia que sua rebeldia poderia causar tristeza para seus amigos.
Angelina e Amélia pediram para visitá-la na outra cidade, mas irmão Miguel hesitou e ficou de pensar no assunto. Ele achava que Naiara deveria passar uns tempos longe dos conhecidos e fazer novas amizades. Resolveu, entretanto, deixá-las visitarem apenas quando Naiara estivesse mais tranquila. O tempo passava lentamente na colônia e finalmente Zefinha voltou de sua preparação e já estava prestes a ir para Terra. Ele teve uma passagem rápida, apenas para se despedir dos amigos. E, todos desejaram que ela fosse muito feliz em sua jornada.
Pouco depois, Amélia recebeu notícias de como sua amiga estava:
Que boa notícia, Luísa. Nossa amiga já está cumprindo o seu novo projeto. Nasceu como filha de Mariana, que era sua neta e Joana, que foi a sua filha, ficou muito feliz em recebê-la como netinha. Mariana já estava casada há certo tempo e queria muito ter um filho. Que seja um começo feliz para todos.
Bem, ninguém quer me dar notícias de Joseph... Onde será que ele renasceu?
Talvez seja melhor só sabermos o que é permitido.

Angelina conheceu um rapaz muito bondoso, chamado Joaquim. Ele ia visitá-la todos os dias em sua casa. Sempre que podiam, saiam para passear nos campos e observavam os animais. Joaquim foi um ótimo veterinário em sua última estada na Terra. O casal seguia sempre os conselhos de irmã Maria e irmão Paulo, que eram os conselheiros dos casais que futuramente iriam se encontrar na Terra.
Os amigos estavam felizes com ambos, mas Angelina persistia em sentir ciúmes de Joaquim, pensando que poderia perdê-lo. Amélia sempre a aconselhava a viver o presente sem se preocupar tanto com bobagens.
Angelina, pense no quanto está feliz. Você sofre por antecedência, devemos nos preocupar só quando as coisas acontecerem e não imaginar que poderão acontecer um dia.
Para você tudo é tão simples.
Sim, eu ajo sempre com muita simplicidade, por isso as pessoas me acham meio doida.
Você é muito legal, mas não consigo ser assim.
Não precisa ser igual, mas tente pelo menos ouvir seu coração e confiar mais em você.

Enquanto as duas conversavam, Dona Graça entrou na sala, dizendo que também queria arrumar um noivo.
Dona Graça, tudo tem a sua hora. Quando chegar a sua, pode ser que conheça alguém que goste.
Eu conheci um senhor muito legal. Chama-se Levi. Ele era meio careca, mas...
E você sabe onde ele está agora?
Não, mas gostaria de saber.
Angelina, não dê asas a ela, você sabe como Dona Graça é muito fantasiosa.
Por que não posso ter um noivo também?
O quê eu quero dizer é que quando você estiver preparada para voltar à Terra, terá um se for o caso. Mas agora tente aprender mais e melhorar rápido para que possa receber boas energias.
Ah, vou para o meu quarto.
Amélia, tenha calma, Dona Graça ainda não se recuperou de todo e você sabe que ela voltará para a Terra, mas não se casará dessa vez. Deverá viver como uma enfermeira, cuidando dos outros. ─ Disse Angelina.
Fale baixo, pois quando ela souber, não sei o quê fará.
Creio que vá entender.
Não, Eu acho que vai relutar, ela se sente muito solitária.
Mas ela terá vários amigos, será muito popular.
Imagino, ela é uma figura fantástica.
Amélia, você teve notícias de Naiara recentemente?
Ainda não, mas teremos permissão para visitá-la em sua nova cidade.
E quando será isso?
Em breve, dentro de alguns dias.
Será que vamos nos sentir bem lá?
Irmã Átila nos disse que nas primeiras horas podemos sentir vertigens, mas logo tudo passará. Fica próximo daqui, só levaremos algumas horas.
E quanto tempo vamos passar lá?
Só uma semana. Ela já foi avisada de nossa visita.

Na cidade em que Naiara estava vivendo, encontrou por acaso, a sua prima, Julieta e passou a morar com ela em uma pequena casa. Mas, Julieta estava prestes a retornar à Terra. E, em breve, Naiara irá receber seu marido, embora ainda não soubesse. Apesar das mudanças, ela estava se adaptando melhor nesse novo lugar.
─ Não vejo a hora de visitar nossa amiga!
E eu também.